terça-feira, 30 de setembro de 2008
Lapso Ideológico - continuação - 2a.parte
narrativa. Parece-nos sacrílega, mas não é. Suas idéias também não são o que mais nos apetecem e sim sua estrutura de composição. Escrita em forma de tríptico, típico do medievo, apresenta-nos uma configuração fabular em que cada ação de um personagem é dirigida a uma idéia filosófica e daí a um símbolo religioso até as representações clássicas da iconografia cristã. Os membros da Congregatio fazem parte de uma confraria de artesãos e guarda-armas revoltosos que alteram as imagens sacras de algumas capelas e basílicas. Cada uma destas alterações provoca frison e confusão na corte e na cúria clerical. Isto porém não significa que suas ideologias sejam modernas. Expliquemos. Seria absurdo supor que as ideologias políticas do mundo atual estavam na base de influência do texto de ZUMPFKOPULE (1974). Seu livro conta-nos a estória de uma organização medieval formada por subversivos confrades do reino da Bavária que, depois de um excitante carnaval resolvem atacar a nobreza e o clero num engenhoso plano de luta e insubordinação. Para isso espalham mentiras pelo reino e alteram as pinturas das capelas e catedrais próximas, terminando por soterrar, em dia de Corpus Christi, bispos, condes e barões sobre a armadilha de um teto-cúpula engenhosamente traidor. Absurdo para um texto medieval? Não é novidade que a alta Idade Média produziu textos satíricos e blasfemos. Mesmo Bakhtin, teórico marxista, pesquisou e encontrou textos do medievo que debochava das Escrituras Sagradas e pintores que representavam um mundo às avessas como Brueghel e Yeronimus Bosch, mesmo àquela época. Portanto é bobagem falar em qualquer ideologia subversiva ligada ao materialismo histórico como o marxismo se aqui as preocupações ainda estão presas ao neo-platonismo, ao nominalismo e às sutilezas metafísicas. Lapso ideológico Neste ponto o medievo é muito parecido com a pós-modernidade. Umberto Eco dirá que a Idade Média, por causa do cristianismo e sua teologia, é simbólica por excelência e semiótica, portanto. Georges DUBY (1998) em seu livro Ano 1000, ano 2000 traçou inclusive paralelos surpreendentes sobre ambos períodos. O filme Fight Club levanta questões que não são e nem nunca foram da modernidade, outrossim, do repertório pós-moderno. SANTOS (1984) afirma que a bomba atômica sobre Hiroshima e Nagasaki é o marco deste período e que a revolução eletrônica dos anos 60 é sua consagração. SANTAELLA (2004) dirá que as máquinas eletrônicas deste período são chamadas de sensórias ou simbólicas, pois produzem e reproduzem signos, imitando nossos órgãos do sentido. Certamente que o flaneur de Baudelaire jamais entrou em contato com este mundo. Sua experiência é primitiva. A maquinaria com que interage é dos primórdios da revolução industrial. São máquinas “viscerais” e “musculares”, de substituição da força física humana. Nem de perto despertavam as mesmas questões que os eletroeletrônicos pediam. Mesmo politicamente, a Idade Média, diferente das monarquias absolutistas subseqüentes ao período, tinha por princípio de governo a soberania limitada dos reis – pois o poder temporal e divino estava mesmo era com o papa – e com isso elaborou esboços de constitucionalismo e representatividade. Este é o lapso ideológico na interpretação de Fight Club. Há luta de classes no filme, isto é inegável mas, como afirma BERMAMN (1995) Marx erra ao atribuir ao proletariado urbano a operacionalidade da revolução. O filme evoca a imagem dos ativistas atuais que nada tem de marxistas clássicos ou de proletariado revolucionário do início do século. São ativistas éticos, culture jammers, participantes do reclaim the sreets, ativistas hackers, estudantes universitários, combatentes de logos, vigilantes corporativos da Internet, revolt bloguers, zapatistas transfonteiras (aqui no Brasil o maior movimento revolucionário está no campo como estes), guerrilheiros das artes, movimentos marginais ligados à cultura underground. Poderíamos até supor que “seu” marxismo é “anônimo”, althusseriano, de pretensão estrutural e científica, bem longe das
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