terça-feira, 30 de setembro de 2008

Lapso Ideológico - continuação - 3a.parte

realidades do cotidiano miserável. Estão próximos sim, dos problemas do urbanóide metropolitano típico, dos habitantes dos grandes centros e dos revoltados com as grandes corporações, as grandes marcas, a propaganda, e o consumismo. Mesmo MARX (1983) chegou a afirmar o seguinte em uma de suas cartas póstumas: Es muß haben einen Betrug in der strengen Abteilung zwischen links und rechtem und in, wem das protagionista der Revolution ist. Ich fürchte, daß das Kapitalismus ekvasivem, Automobil-comisseravischem und verbesserndes ist. Wenn folglich es ist, Jeeing von uns sein und ich erreiche nicht, um Ausgang zu sehen einige (MARX, 1983, p.34) – (Tradução: “Deve haver um engano na divisão estrita entre esquerda e direita e em quem será o protagonista da revolução. Temo que o capitalismo seja evasivo, auto-comisserável e regenerativo. Se assim for, estarão zombando de nós e não vejo saída alguma” MARX, 1983) Sendo assim, podemos afirmar que se na obra de ZUMPFKOPULE (1974) o marxismo não existia e que na modernidade ele está praticamente remodelado e para alguns até superado e, ainda, se o próprio Marx tem dúvidas, poderíamos supor que para esta interpretação as ideologias do século XIX são um erro. Esquerda e direita é atualização jacobinista das mais ignóbeis. Ater-se aos seus conceitos é o mesmo que amarrar-se às respectivas filosofias do século retrasado, sem as atualizações necessárias. Mas em nosso obscuro texto já se vêem esboços de subversão. Na obra Corvus Corax et Congregatio onis Pugna o protagonista Jacobus, um comerciante judeu, une-se ao menestrel Cioran Tirolescus para colocar em prática seu plano subversivo. Mesmo que haja uma preocupação estética do personagem – que alterava pinturas sacras e resignificava sua simbologia por meio dos falsos boatos e estórias fantasiosas – as metáforas – e é possível tomá-las como uma espécie de pictorialização das próprias “ideologias” - são substituídas por inflexões que beiram o disforme, a transparência e o realismo cruel. Nosso filme em questão é pós-moderno e lida com as mesmas questões. O cinema clássico dos anos 20 aos 50 possuíam uma exatidão simbólica e até cenas de sexo eram substituídas por metáforas como a chegada de uma cavalaria ou tiros de canhões de guerra. Os filmes de Hitchcock, da fase do cinema maneirista, exploravam a imagem como miragem, a pictoria enganadora, os planos subjetivos e a farsa de uma pulsão escópica freudiana. Neste filme, outro elemento pós-moderno é inserido: o hiper-realismo. E isto atrapalha a identificação ideológica de seus presupostos. Resta-nos a desconfiança pois assim como o catolicismo introjetou e assimilou a rebeldia carnavalesca, dando-nos a quarta-feira de cinzas, o filme em questão leva em seus créditos a sua desconcertante capitalista: EUA. Auto-comisseração à vista! Somos obrigados a concordar com Marx aqui: se o capital tem este poder auto-comisserável e regenerativo, estamos perdidos. A análise dos personagens aumenta nossa frustração. Sabemos apenas que Tyler Durden, protagonista e id de Jack - tal como Jacobus e Cioran, que evocam constantemente e de modo sacrílego a proteção de São Cosme e Damião – é contra as estruturas disciplinares de comando, recusa as organizações coercitivas do trabalho social, recusa o trabalho e quer autonomia dos próprios trabalhadores. Cosme e Damião são dois santos gêmeos e subversivos. O didimismo – fato de as pessoas nascerem gêmeas – era visto com desconfiança pelos medievais. Sinal de contrafação e engano, acreditavam que um gênio ruim havia-os duplicado no ventre materno. O dídimo (gêmeo) era a imagem da contrariedade. Jacobus e Cioran Tirolescus se parecem. São sósias. Pasmem: Assim como os protagonistas de Corvus Corax eram contra a idéia de castigo divino, Tyler, numa atualização surpreendente desta idéia, é contra a disciplina. Aqui vemos um lapso de ideologia. Historicamente, a disciplina está ligada à modernidade e à revolução industrial, pois é nela que se estabelece a jornada de trabalho, o horário comercial, o tempo de produção, as leis trabalhistas e os

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